Cachoeira/BA

Foto: Blog Memórias do Mar - Marlon Marcos

A origem da cidade de Cachoeira está relacionada à chegada do fidalgo, de origem genovesa, Paulo Dias Adorno, que tal como seus irmãos, pertenceu ao primeiro núcleo de colonos da Capitania de São Vicente, tendo colaborado na fundação do engenho de São João, em Santos, segundo alguns autores. Na sequencia de um homicídio que cometera, Paulo Adorno fugiu para a Bahia, onde se estabeleceu, com o objetivo de colonizar e iniciar o plantio da cana-de-açucar, e constituiu família, tendo se casado, em 1534, com Filipa Álvares, filha mais nova de Diogo Álvares Correia, o "Caramuru", e Catharina Paraguaçu.

Paulo Adorno, com Rodrigues Martins, buscou exatamente a margem esquerda do Rio Paraguaçu, onde poderiam, sem dificuldades, entrar e sair com suas embarcações. Era uma região privilegiada para o plantio. Adorno fixou sua fazenda entre os rios Caquende e Pitanga, até hoje existentes, construindo residencia, senzala, engenho e uma pequena capela sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário (atual Capela Nossa Senhora D'Ajuda). Em torno da capela surgiu uma população que se desenvolveu rapidamente, em função do florecimento da economia açucareira.

Capela de Nossa Senhora D'Ajuda no século XIX
Foto: Arquivo pessoal de Cacau Nascimento
Capela de N.S. D'Ajuda nos dias atuais.
Com a construção da Igreja Matriz, a devoção à padroeira foi
 transferida a essa instituição. Em 1820, a igreja foi doada aos descendentes da Família Adorno, e reformada com a contribuição
de comerciantes, pessoas da elite e senhores de engenho,
sendo instituída a devoção a N.S. D'Ajuda.
Foto: Jornalista Alzira Costa.

Adorno e Martins conseguiram apaziguar os nativos (índios), o que facilitou um bom relacionamento e uma melhor colonização. O impulso ao progresso deu-se pelo privilegiado Porto da Cachoeira, que fazia a ligação entre o Recôncavo e o Sertão na união de riquezas: gado e ouro. O comércio crescia rápido, tornando Cachoeira a cidade mais rica, populosa e uma das mais importantes do Brasil.

Paralelamente à atividade econômica, aumentava sua participação política, tornando-se conhecida como "Cidade Heróica", pela coragem e audácia de seus filhos, que muito lutaram pela Independencia da Bahia e do Brasil. Dois bonitos exemplos são Maria Quitéria de Jesus Medeiros (nascida em 1792, no Sítio do Licozeiro, freguesia de São José de Itapororocas, quando essa pertencia a Cachoeira. Se alistou voluntariamente no Exército, como homem, em 1822, após o ataque de uma canhoneira contra sua cidade. Lutou bravamente para livrar a Bahia do jugo portugues) e Anna Justina Ferreira Nery (cachoeirana nascida em 1814, ao irromper a Guerra do Paraguai, viúva, aos 50 anos de idade, requereu ao presidente da Bahia que lhe fosse permitido acompanhar os filhos e o irmão, ou prestar serviços nos hospitais do Rio Grande do Sul, o que lhe foi concedido. Recebeu o título "enfermeira do Brasil", durante a Guerra).

Maria Quitéria.  Imagem: Jeito Baiano
Anna Neri. Imagem: Overmundo

Além das ilustres visitas de D. Pedro I, D. Pedro II, Princesa Isabel e Conde D'Eu, Cachoeira foi sede do governo da Bahia por duas vezes: no início das lutas pela Independencia (1822) e durante a Revolta da Sabinada (1837). Isso trouxe para a cidade valores notáveis nas artes, arquitetura civil e religiosa, monumentos impregnados de história.

Cachoeira, vista de São Félix. 1825. por J.M.Rugendas.
Imagem: Recôncavo Rebelde, de João José Reis.


Atualmente, a cidade de Cachoeira compreende uma área de 403 km2, fazendo fronteira ao norte com Conceição da Feira, ao sul com Maragogipe, a leste com Santo Amaro e a oeste com São Félix, ou melhor, com o Rio Paraguaçu, que separa as duas cidades.

Fonte: Livro "Gaiaku Luiza e a Trajetória do Jeje-Mahi na Bahia", por Marcos Carvalho
Adorno, Paulo Dias: Cátedra "Alberto Benveniste"