Irmandade da Boa Morte

Foto: Wikipédia

A Irmandade da Boa Morte é uma instituição criada por um grupo de mulheres negras, no início do século XIX , período em que existiam outras irmandades de homens brancos, mulatos e pretos, mas nenhuma formada exclusivamente por mulheres negras. Nesta, elas tinham total liberdade para decidir, organizar e reinar nas festividades. Muitas igrejas realizavam missas e procissões, mas nenhuma fazia tão bem como a Igreja da Barroquinha, onde elas estavam.

Em 1820, presumivelmente, a Irmandade da Boa Morte instalou-se em Cachoeira. A partir da criação desta Irmandade foi criado o primeiro Terreiro de Candomblé, Iyá Omi Axé Ayá Intilá, numa casa ao fundo da Igreja da Barroquinha, após sofrer perseguições por parte das autoridades, fixou-se no bairro da Vasco da Gama, com o nome de Ilê Iyá Nassô Okó, conhecido como Casa Branca; a partir de 1920, deu origem a mais dois Terreiros: o Ilê Axé Opô Afonjá, em São Gonçalo do Retiro e o Ilê Iyá Omim Iyá Massê, na Federação, conhecido como Gantois.

A Irmandade da Boa Morte, em Salvador, resistiu, provavelmente, até o ano de 1929, pois, de 1930 a 1934, não aconteceram as devoções na Igreja da Barroquinha. Em 1935, saiu nova procissão comandada por novo grupo, com mocinhas de veu e criancinhas vestidas de anjo, sem os negros e a multidão que se compria ao redor do esquife. Já a Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, expandida de Salvador, mantem-se até os dias de hoje, fundamentada nos parentescos sócio-hierarquicos de uma complexa sociedade geral de terreiros que mantem entre si vinculos de ordem ética e moral.

Foto: Tito Garcez

Antes da Irmandade da Boa Morte chegar a Cachoeira, já existia outra, formada por homens pretos da nação Jeje, chamada Irmandade do Senhor Bom Jesus da Paciencia, com o título de Senhor dos Martírios, datada de 1765 e situada no Convento da Vila de Nossa Senhora do Monte do Carmo da Vila de Nossa Senhora do Rosário da Cachoeira. Essa Irmandade masculina fundou igreja, em 1876, e cemitério próprio, conhecido como cemitério dos nagós, localizado no alto do Rosarinho.

Quando a Irmandade da Boa Morte se expandiu para Cachoeira, ficou instalada em uma casa residencial na Rua da Matriz (atual Rua Ana Nery, 41). Não se sabe o porquê dessa Irmandade não se instalar em uma das igrejas existentes em Cachoeira, ou até mesmo construir uma igreja própria; em vez disso, abrigou-se em uma casa onde havia grande concentração de africanos. Essa casa, ainda em bom estado, é conhecida pela população de Cachoeira como Casa Estrela, porque, fixada no chão da calçada, na porta de entrada, há uma estrela em granito, dirfarçando um Èsú assentado pelas africanas que por lá passaram.


Casa Estrela. Foto: Blog da Jornalista Alzira Costa

Quando a africana Ludovina Pessoa, Irmã da Boa Morte e fundadora do Terreiro Jeje Zoogodô Bogun Malé Hundó, em Salvador, chegou em Cachoeira, ficou hospedada na Casa Estrela, onde morava outra Irmã da Boa Morte, Julia Deocleciana Nascimento, seu companheiro, o negro Cassimiro, e suas tres filhas: Julieta do Nascimento (Santinha), Deocleciana do Nascimento (Tutuzinha) e Cassimira do Nascimento (Dóu).

Fonte:
Gaiaku Luiza e a Trajetoria do Jeje Mahi na Bahia, por Marcos Carvalho